Todos nascemos em um contexto único: em determinada cidade, em uma data histórica e um local específicos, fazendo parte de uma família, no momento em que seus membros vivenciavam também uma situação particular. A partir do nosso nascimento, passamos a estabelecer relações com nosso próprio corpo, com os outros, com o tempo e com a materialidade, elaborando compreensões sobre os acontecimentos e sobre nossas experiências – compreensões estas que guiam nossas ações e movimentos no mundo.
Com o passar do tempo, enquanto crescemos e fazemos escolhas nos direcionando para o futuro, muitas vezes mudamos de bairro ou cidade, estabelecemos novas relações, convivemos com outras pessoas e outros ambientes e, aos poucos, nos fazemos um tanto iguais, mas também diferentes do que éramos. Contudo, permanece inalterado o fato de que construímos nossa personalidade a partir desta constante interação entre nossa história individual e o contexto social, histórico e cultural em que vivemos e, portanto, de nossa forma de sentir, de pensar e de agir.
Neste sentido, por diversas vezes a realidade em que estamos inseridos pode se apresentar carregada de dificuldades. São momentos em que nos vemos frente a situações que parecem escapar ao nosso alcance: talvez algo tenha mudado e já não conseguimos contar com a ajuda de quem está próximo; talvez nos vejamos diante de um futuro que exige nossa ação e que determina que façamos escolhas ponderadas, mesmo com tantos caminhos possíveis de serem seguidos; ou, ainda, o mundo e os outros nos exigem que façamos escolhas e tomemos atitudes que não nos parecem aquelas mais condizentes com os nossos desejos…
Nestas circunstâncias, muitas vezes não sabemos a quem recorrer. Contudo, é exatamente nestes momentos que podemos contar com uma ajuda especializada. Entre as possibilidades de auxílio e de ferramentas que estão hoje à disposição da sociedade são as psicoterapias. Entre elas, a Psicoterapia Existencialista Sartreana propõe que, por meio da reflexão, o paciente compreenda sua história e a forma como tem se constituindo até este momento. O processo de desenvolve, assim, em um movimento de compreensão sobre o passado e sobre as experiências vividas, para que em seguida haja uma reflexão sobre o futuro, ou seja, sobre quem o cliente deseja ser.
Durante o processo, o psicoterapeuta então assessora o cliente na elaboração de novas possibilidades de ação, engendrando outras formas de lidar com a realidade que se apresenta. Para tanto, é fundamental que o sujeito compreenda que estamos a todo momento realizando escolhas – ações e posicionamentos no mundo – que nos aproximam ou nos afastam de nosso desejo em relação a quem queremos ser e ao futuro que desejamos viver. Isto porque, para Jean Paul Sartre, somos todos condenados à liberdade – esta é nossa condição humana, pois mesmo “não escolher” é uma escolha. Contudo, escolhemos em meio ao contexto em que estamos inseridos, com as ferramentas e compreensões de que dispomos até aquele momento. Por isso, a psicoterapia visa ser uma mediação que insere novos olhares e perspectivas para as pessoas, fazendo com que possam realizar escolhas críticas e que lhe permitam não só sair do sofrimento e superar situações de conflitos, mas também a realização de mudanças que produzem novas experiências de ser.
