Vivemos em uma sociedade que valoriza o sucesso e o prazer. Nela, temos a impressão de que, para ser feliz, é necessário acertar sempre, ter tudo e evitar as faltas. A tecnologia nos dá a falsa ideia de que temos solução para todos os males!
Todo este contexto nos gera uma irreal sensação de que é possível a completude e de que as frustrações devem ser evitadas a qualquer custo. Tristeza vira depressão, angústia precisa de remédio. Se algo não deu certo é porque alguém falhou. Então, como lidar com as perdas neste cenário? Como lidar com o fato de que, em alguns momentos, nossos planos são bruscamente interrompidos, nossos investimentos são descontinuados? Muitas vezes nem sequer percebemos que, para escolher um projeto, precisamos abrir mão de outros!
As perdas fazem parte de modo inevitável da vida. Casar-se é abrir mão da condição de solteiro. Graduar-se é abrir mão da condição de estudante. Viajar é não estar no aconchego do lar. Para ter saúde é preciso cuidado, “não se pode tudo”. Amar é lançar-se ao vínculo mesmo sabendo que a pessoa pode não estar para sempre lá.
Lidar com as perdas e elaborar lutos são condição indispensável para a aceitação de que a vida é descontínua, mutável, inexata. Porém, numa
sociedade que espera sujeitos sempre prontos e felizes, pode restar pouco espaço para que possamos compreender para então e superar estas dores.
A psicoterapia, enquanto ferramenta científica, procura oferecer às pessoas um espaço de compreensão sobre sua personalidade e sobre os
fatores que contribuem para o modo como vivemos as experiências. Nela, o psicólogo propõe novas perspectivas sobre os problemas vividos, indicando outros instrumentos de ação e ampliando assim as possibilidades de escolha das pessoas na construção de novos caminhos, em que seja possível ultrapassar a dor e aceitar as perdas, encarando-as também como possibilidade de transformação.