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Sartre, Política e Rótulos

23/10/18

Sartre foi um filósofo polêmico, de opiniões impactantes, com vasta produção literária e que modificou concepções centrais na forma de compreender o ser humano. 

Além das obras filosóficas renomadas, publicou diversos romances, peças de teatro e escrevia constantemente para jornais e demais meios de comunicação de imprensa. Também era politicamente ativo, participando de causas políticas e sociais e de movimentos de rua. Desta forma, tornou-se uma figura pública na França, sendo alvo de adeptos e críticos que, nem sempre, eram também estudiosos e conhecedores de sua obra e seus conceitos.

Acrescidos a isso, Sartre expunha suas ideias e suas críticas com muita firmeza e convicção, nem sempre se fazendo uma pessoa agradável ou preocupada em manter o status quo. Ele acreditava que o questionamento e as críticas são meios saudáveis para a construção do conhecimento e para o aprendizado dos homens nos mais diversos temas.

Estes são alguns dos motivos pelos quais existem muitos mitos, confusões, antipatias e incompreensões relacionadas a vida e obra de Sartre.

Escolhas e Futuro

Uma das ideias centrais na obra de Sartre é a de que o homem move-se permanentemente em direção ao seu futuro e que suas ações presentes explicitam, em certa medida, qual é este horizonte almejado. Neste sentido, o futuro passa a ser uma força importante para compreender o sujeito e a forma como ele toma suas decisões atuais. Sartre atribuiu grande relevância ao ato de escolher, já que o homem se depara com diversas possibilidades para conduzir sua vida e é constantemente chamado a escolher-se. Esse futuro, do que ainda não temos e que ainda não somos, é construído a cada instante, pelas escolhas que nós mesmos fazemos. Assim, o futuro está em nossas mãos, mesmo que limitado por fatores concretos e históricos que nos permeiam. As possibilidades são infinitas e sempre é possível avançar em direção a um projeto eleito.

Neste sentido, a Psicologia baseada em Sartre trabalha para que o sujeito compreenda suas possibilidades de escolha, bem como suas consequências, e para que ele exerça essa sua liberdade de forma crítica. Há um cuidado para que o sujeito não se sinta determinado pelo seu passado (quem ele foi até aqui) e sim para que ele construa o seu futuro de forma ativa.

Política

Neste sentido é que Sartre afirma que nunca estamos prontos e sim em constante construção. Esta compreensão acerca da existência humana o tornou muito crítico em relação à sua própria obra e seu posicionamento social e político. Esta é uma das principais razões pelas quais Sartre mudou de opinião diversas vezes em relação a conceitos e política, sempre amadurecendo sua obra e cada vez mais comprometido com o coletivo. Este comportamento de mudar de opinião, no entanto, gerou uma impressão equivocada em relação à sua integridade teórica e moral, além de uma complexidade maior para o público disposto a compreender seus conceitos em constante construção.

Sartre e Karl Marx

Dentro deste contexto, Sartre estudou a obra de Karl Marx, principal autor do Socialismo, expoente de sua época nos estudos sobre Sociologia. Note-se que Sartre lia sobre filosofia desde a infância com seu avô, de modo que conhecia todos os renomados autores e não foi diferente em relação a Marx. Sartre recortou da obra de Marx o conceito de dialética, compreendendo sua riqueza para explicar o movimento das sociedades. Este conceito marxista aborda o processo de construção do conhecimento, entendendo que ele se dá por meio de uma ideia inicial (uma tese), que costuma ser questionada com um contraponto, (uma antítese, ou anti-tese). A partir deste choque de ideias, há uma espécie de amadurecimento ou discussão, que gera uma construção terceira, que seria a síntese. Esta síntese passa a ser uma nova ideia inicial, que inicia um novo ciclo. Assim se daria o conhecimento dos homens e também o movimento histórico social de uma forma mais ampla.

Sartre, porém, discordou de Marx em diversos pontos, sendo o principal deles a ideia de que nossa sociedade chegaria a um ponto em que as classes menos favorecidas tomariam o poder e que isso se daria, necessariamente, por meio de uma luta armada. Esta ideia pré-determina a escolha dos homens, fazendo com que sejam meros reprodutores de uma pré-concepção, algo totalmente contrário à noção da liberdade presente em Sartre. Esta diferença, portanto, afasta Sartre de poder ser denominado um pensador socialista.

Sartre e o Partido Comunista

Além dessa discordância teórica, outra evidência importante nesta discussão é a de que Sartre não aceitou os diversos convites e estímulos que recebeu para se filiar ao partido comunista. Ele se aproximou deste movimento durante uma época com o intuito de compreendê-lo e vivenciá-lo, porém logo se afastou e continuou seu trabalho filosófico e crítico. Sendo coerente com seus conceitos, Sartre se posicionava de maneira extremamente avessa a rótulos e ideias que o definissem como algo determinado ou pronto. Por conta disso, além de não se filiar a nenhum partido, ele também não aceitou o Prêmio Nobel de Literatura que lhe foi oferecido no ano de 1964.

Diálogos Possíveis

A prioridade de Sartre era compreender a existência, gerar conhecimento e trazer um olhar crítico para os seres humanos a respeito de si mesmos. Esta postura abre possibilidades na forma de encarar teorias ou ideias, fugindo de um olhar absoluto, onde há uma espécie de rótulo, para um olhar mais contextualizado, onde torna-se possível avaliar pontos positivos e negativos, apreendendo algo de forma mais crítica. Superar a ideia comum de “tudo ou nada” e de “oito ou oitenta” diante de cada teoria, discurso, pessoa, partido ou posição política pode levar os homens a construir algo mais verdadeiramente coletivo.

 

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