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Reflexões sobre o preconceito

20/11/18

Quando ouvimos falar sobre preconceito, geralmente nos lembramos do racismo e da homofobia, temas muito importantes da nossa sociedade. No entanto, essa forma de ver o mundo pode se manifestar em diversas outras situações e atitudes, inclusive em pessoas que não se julgam preconceituosas. Nesse texto, iremos refletir sobre como isso acontece.

Mecanismos do preconceito

O preconceito é construído a partir de concepções universais enraizadas em nossa sociedade e que, muitas vezes, nos são passadas ao longo da vida como verdades.

Na infância, é comum que as crianças absorvam e passem a reproduzir estes elementos através da família, da escola e até mesmo dos amigos e colegas. Situações diretas, indiretas, imagens e falas podem ajudar a construir e reforçar generalizações, estereótipos e rótulos preconceituosos.

Em muitos casos, a lógica preconceituosa torna-se tão automatizada que as pessoas não chegam a questioná-la. Assim, em vez de adotarem uma postura crítica com o que lhes foi ensinado, os indivíduos tomam os conceitos universais pré-estabelecidos como verdades, agindo, reproduzindo e transportando-os para a esfera do singular. Estas atitudes espontâneas, que reproduzem essa racionalidade dominante, podem causar inúmeros prejuízos, individuais e coletivos.

“Esse conjunto de pressupostos reproduzidos automaticamente envolve verdades acerca de questões como características físicas, como a cor da pele, religião, posição política, opção sexual ou gênero. Questionar nosso ponto de vista em atitudes cotidianas pode evitar inúmeras violências ” Andrea Hellena dos Santos, Psicóloga (CRP 12/8762).

“Não importa quem é a pessoa ou o que ela faça. Se for enquadrada em determinado grupo, será vista de determinada forma pelo olhar preconceituoso. A intolerância religiosa é exemplo disso” Fabíola Langaro, Psicóloga (CRP 12/0799).

“A mesma estrutura do preconceito também pode aparecer em atitudes sutis, como em dificuldades no trabalho e nos estudos, pela negação do diálogo com opiniões diferentes em uma reunião, por exemplo” Eliane Regina Ternes Torres, Psicóloga (CRP 12/02711).

Historicamente, a atitude preconceituosa é direcionada a grupos específicos da sociedade, denominados “minorias”, que sofrem exclusão social por serem vítimas de um olhar pré-determinado sobre si. O estigma daquele grupo a que pertencem é percebido pelo olhar preconceituoso com destaque, deixando para segundo plano a pessoa em questão.

Existencialismo

Para os autores existencialistas, o ser humano primeiro existe no mundo e só depois é influenciado por valores culturais que sofre da família e da sociedade, constituindo sua personalidade pelo conjunto desses elementos.

“No entanto, pensamentos preconceituosos invertem essa lógica e entendem que a essência, que estaria de alguma forma ligada a determinadas características, antecede a existência” Andrea Hellena dos Santos, Psicóloga (CRP 12/8762).  

O pensamento preconceituoso não se preocupa, nem mostra disposição em estar aberto, conhecer e formar as suas próprias conclusões críticas sobre as pessoas e situações. Aplica generalizações e estereótipos universais sobre casos singulares, resumindo fenômenos e pessoas a ideias pré-concebidas.

Inacabado

Vimos que o preconceito é uma ideia interpretada como verdade acabada, fixa e que não é questionada. Ele vai contra o pensamento crítico.

Para superá-lo, é importante compreendermos que os seres humanos estão em constante transformação. Uma pessoa com atitudes preconceituosas pode sim deixar de reproduzi-las. E, para isso, o diálogo é fundamental. As pessoas mudam através da interação com as outras.

“Quando escolhemos nos afastar de alguém preconceituoso, corremos o risco de também estarmos sendo preconceituosos. Devemos nos questionar sobre como ajudar a pessoa a tornar-se mais crítica e a mudar, uma vez que todos nós podemos ter atitudes preconceituosas e todos nós temos vivências e experiências diferentes” Andrea Hellena dos Santos, Psicóloga (CRP 12/8762).

“Mais grave do que ter pensamentos preconceituosos é deixar-se levar por eles, sem questioná-los” Fabíola Langaro, Psicóloga (CRP 12/0799).

Superar o preconceito

Reconhecer casos e situações em que manifestamos preconceito é um dos primeiros passos para superar a atitude preconceituosa. Para isso, é importante perceber que o mundo nos foi ensinado de determinada forma, com concepções que não correspondem necessariamente à realidade.

Além disso, não é possível creditar todo o nosso preconceito à forma como nós fomos educados. Como disse Jean-Paul Sartre (1905 a 1980), “nós não somos o que fizeram de nós, mas o que fazemos com o que fizeram de nós”.

“O preconceito traz muitos prejuízos para quem o sofre, mas também para que o pratica. Qualquer pessoa ou área de trabalho precisa dialogar com o que lhe é diferente” Eliane Regina Ternes Torres, Psicóloga (CRP 12/02711).

“Pessoas diferentes possuem experiências e aprendizados diferentes. Isso nos enriquece e nos permite ter uma visão global dos fenômenos”. Fabíola Langaro, Psicóloga (CRP 12/0799).

“O preconceito restringe a nossa visão de mundo. Muitas vezes, estamos repetindo ‘verdades’ hegemônicas que absorvemos ao longo da infância/adolescência sem nos darmos conta. É essencial refletir criticamente sobre os pressupostos que embasam nossas atitudes”. Andrea Hellena dos Santos, Psicóloga (CRP 12/8762).

A Clínica Consciência Psicologia busca refletir constantemente sobre as generalizações e preconceitos. Nosso profissionais são comprometidos com a atitude crítica, com a formação contínua e com a redução do sofrimento humano. Conte conosco!

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