Na cultura ocidental em que vivemos, há uma ideia predominante de relações baseadas no amor romântico. Em geral, aquele em que, em algum momento de nossa trajetória, encontraremos alguém que possa ser como uma alma gêmea. Assim, irá nos preencher e dar sentido à nossa existência. Mas, será assim que construímos uma relação amorosa saudável?
Amor Romântico e suas Implicações
Essa visão sobre o amor gera expectativas de que o outro nos faça feliz e de que nosso/a parceiro/a sempre saiba a melhor forma de se relacionar conosco, quase que “magicamente”. Da mesma forma, cria uma ideia de que a relação irá perdurar com base na paixão e na garantia de que encontramos “a pessoa certa”.
Nas relações baseadas nessa compreensão, é comum encontrarmos pessoas que, com o passar do tempo, se anulam em função do outro ou, por outro lado, que assumem o controle da relação, determinando como as situações vão ocorrer, na maior parte das vezes. Isso porque, na ideia do amor romântico, dois sujeitos precisam se unir e formar um único e comum projeto de vida, mas com a ideia de que, para isso, seja necessário renunciar a seu projeto singular.
Essa experiência pode, com o passar do tempo, lançar as pessoas na solidão e no sofrimento. Ao abdicar de sua singularidade, é comum que os parceiros façam cada vez mais exigências um ao outro e que se ressintam sobre o que sentem que “abriram mão”.
Que outras possibilidades são, então, possíveis para as relações amorosas?
Projeto Comum e Projetos Individuais
Em uma relação amorosa saudável, talvez os envolvidos compreendam que cada um é singular, protagonista de uma história e de um projeto e que, para que haja um projeto comum, não é preciso que abdiquem de suas individualidades. Pelo contrário, duas pessoas, inteiras, cada uma com sua trajetória, irão construir um projeto comum, que comporte também os projetos singulares.
Nessas relações, cada parceiro auxilia o outro a alcançar, além dos propósitos da relação, também seus desejos singulares. Cada um compreende o outro e o percebe em sua liberdade de fazer escolhas. Ainda, não sente necessidade de direcionar de que modo o outro irá mover-se no mundo e nas demais relações. Ambos podem dialogar para compreender de que modo as ações que cada um empreende impactam ao outro e na relação, mas sem esperar que seu/sua parceiro/a se anule em seus desejos.
Aspectos de uma Relação Amorosa Saudável
Para que uma relação amorosa saudável aconteça – embora não haja receita – é importante considerar alguns aspectos:
Adaptação às Mudanças Individuais
O investimento no relacionamento é contínuo em uma relação amorosa saudável. Lembre-se de que, quando um casal “se forma”, cada pessoa da relação estava em um momento existencial característico. Às vezes estudando, por vezes em um trabalho específico, em uma condição financeira particular. Pode ser que tivesse planos relacionados àquele momento, relações de amizade ou familiares relacionadas àquele período. Com o passar do tempo, esses aspectos da vida podem se alterar e aquilo que alguém pensava até então pode também ter se modificado.
A frase “você não é a pessoa com quem eu casei” exemplifica esse cenário. Sim, após alguns anos, mudamos! E por isso não somos mais exatamente as mesmas pessoas. Então, relações amorosas viabilizadoras comportam e se adaptam às mudanças individuais.
Diálogo
Para que a relação amorosa inclua e acolha essas mudanças individuais, o projeto comum, construído pelo casal, terá de sempre ser pensado, revisto, revisado. Para isso, o diálogo é fundamental. Não é viável que, em uma relação, cada um espere que o outro adivinhe pensamentos, sentimentos e expectativas. Esses aspectos precisam ser constantemente pensados dentro da relação.
Nesse sentido, é importante comunicar como as escolhas que cada um faz afetam o outro, de que modo as escolhas que cada um faz impactam no projeto que cada um tem e na forma como cada um vive. Talvez o grande desafio aqui seja expor sentimentos sem enunciar críticas ou mesmo exigências de que o outro aja de modo específico, pois as saídas para os impasses podem ser construídas conjuntamente.
Singularidade
Por fim, é importante considerar que as relações amorosas não são – ou não precisam ser – o centro de nossas existências. Por isso, é fundamental continuar cuidando de outros relacionamentos: amizades, família, trabalho, colegas.
Em uma relação baseada na compreensão de que cada um tem sua singularidade, de que cada parceiro/a vivia uma história antes do encontro do casal, não há exigência de que tudo seja sempre compartilhado ou de que o outro prescinda de algo que antes já fazia e de relações que já tinha. Cada um pode acolher o outro com seu mundo, suas escolhas e vivências.
Como superar os desafios na relação?
Por que, por vezes, é difícil viver uma relação amorosa saudável, duradoura e feliz?
Entre outras razões, isso pode ocorrer porque, com frequência, as pessoas esperam viver o ideal do amor romântico. Afinal, ele está presente ao longo da nossa trajetória, nos filmes que vemos, livros que lemos, músicas que ouvimos, histórias que ouvimos.
Porém, os desafios começam a aparecer com a convivência. Então, o casal se vê com poucas ferramentas para construir e manter a vida a dois. Além disso, muitas vezes, aprendemos a falar, mas não a nos comunicar de modo efetivo, sendo assertivos e podendo compartilhar o que sentimos e pensamos sem mergulhar em emoções intensas.
Como já dissemos aqui, a psicoterapia de casal pode ser uma estratégia para que cada um compreenda as dificuldades que vivencia na relação amorosa e uma forma reorganizar o projeto comum construído pelo casal. Assim, contemplando o projeto singular que cada um é, ambos podem avaliar o que esperam para o futuro do relacionamento e elaborar juntos ações para concretizá-lo.
Para uma relação amorosa saudável, é importante, principalmente, não deixar que as situações se agravem para então buscar ajuda. A psicoterapia pode também ser vista como um investimento a ser feito para que a relação se torne mais viabilizadora de quem cada um deseja ser e do que ambos desejam viver. Se precisar de ajuda, conte conosco!
