Neste texto, apresentaremos algumas reflexões sobre a construção da sexualidade enquanto dimensão da existência humana e, portanto, como aspecto vivido e articulado a outras dimensões da vida.
O que é a sexualidade?
A sexualidade está para além do ato sexual. Ela abrange afeto, carinho e proximidade física. E envolve, também, aquilo que desperta interesse e desejo em relação a outra pessoa com quem se espera desenvolver uma relação de intimidade corporal.
Dessa forma, a sexualidade é uma experiência ampla: envolve o ser que somos, nossa personalidade. E, com ela, aquilo que é capaz de nos atrair ou nos repelir, o que nos faz sentir atração por uma pessoa e desejar ter com ela a intimidade de uma relação afetivo-sexual. Envolve, então, nossa personalidade, mas envolve, também, a personalidade da outra pessoa com quem vamos nos relacionar.
Embora o exercício da sexualidade inclua o aspecto físico (e, nesse sentido, a aparência pode ser mais importante para algumas pessoas e, para outras, menos), ela abarca, também, uma construção que ocorre ao longo de nossa história como sujeito. Isso pois o corpo é carregado de subjetividade.
Por que as pessoas sentem dificuldade em expressar-se sobre suas sexualidades?
Por vezes, as experiências de sexualidade podem gerar dificuldades para as pessoas. Pode ser que não consigam se realizar, sentir-se felizes e seguras sobre esse aspecto de suas vidas. É bastante comum, inclusive, que as pessoas tenham dificuldades para falar sobre suas experiências de sexualidade com parceiros e parcerias.
Isso ocorre, muitas vezes, porque há uma ideia de que a sexualidade é “natural” e, portanto, deveria estar pronta. Ou, ainda, ocorrer de modo fluido sem que se fale sobre ela. Contudo, é fundamental lembrar que o modo como nos relacionamos com nosso corpo e com nossa sexualidade é atravessado pelos aprendizados que tivemos ao longo da vida. Além disso, é marcado pelas experiências anteriores e por aquilo que pensamos sobre nós mesmos e sobre as relações afetivo-sexuais.
E como isso se dá na prática?
É assim, por exemplo, que muitas mulheres não chegam a conhecer seus corpos e ter clareza sobre o que lhes dá prazer. É frequente ouvir relatos de mulheres heterossexuais que, atravessadas pela compreensão de que precisam respeitar e satisfazer o desejo de seus parceiros, de que homens “naturalmente precisam de sexo, mais do que as mulheres”, tenham relação sexual sem vontade ou que sejam somente objeto de prazer para eles. Por outro lado, quando conhecem seu corpo e querem exercer seu direito de busca pelo prazer, podem se experimentar “fazendo algo errado”. Ou, ainda, temendo não serem bem-vistas pelos seus companheiros. Por outro lado, concepções de que a sexualidade masculina é envolta de certa agressividade, impulsividade ou força pode legitimar relações violentas. Isso é extremamente grave e gerador de sofrimento para muitas mulheres.
Construções sexuais hegemônicas na sociedade podem, portanto, legitimar relações que levam pessoas à solidão e ao sofrimento. É assim que, com frequência, pessoas enfrentam preconceitos e são alvo do que se convencionou chamar de LGBTQIA+fobia, ou seja: violências que ocorrem contra pessoas não heterossexuais.
Que conclusões podemos tirar?
Por isso, queremos lembrar aqui que o exercício da sexualidade é amplo e diverso. Além disso, é uma construção e estará sempre atrelado ao ser que somos. É assim, por exemplo, que as vivências da sexualidade se alteram nas diferentes idades (adolescência, vida adulta, velhice). Mas, também, a partir das experiências de vida que temos em outros aspectos de nossa existência ou da pessoa com quem nos relacionamos.
Examinar como nos sentimos em relação à nossa sexualidade pode ser o ponto de partida para o exercício de uma vivência sexual articulada a quem desejamos ser. Refletir sobre a relação que estabelecemos com esse aspecto de nossa vida pode nos auxiliar a compreender o que temos vivido nessa esfera de nossa existência e avaliar se há algo que desejamos mudar ou se temos tido a oportunidade de experimentar conexão e intimidade com o outro de nossa relação afetivo-sexual.
Lembre-se de que, embora possa haver dificuldade para abordar esse assunto em suas relações, conversar com seu parceiro ou parceira amorosa pode dar a oportunidade de viver experiências de ainda mais reciprocidade e entrelaçamento afetivo dentro de uma relação, seja ela duradoura, seja ela casual.
Conte com auxílio psicológico para tratar sobre a sexualidade
Além disso, tenha em mente que sua psicoterapeuta estará apta a trabalhar com você aspectos relacionados a essa dimensão da vida e a refletir, junto com você, sobre como você tem se experimentado nessas relações, como sua trajetória de vida atravessa sua sexualidade e sobre como você deseja vivê-la daqui para frente.
Como qualquer outro aspecto de nossa existência, a sexualidade também é construída e não está pronta. Ela pode ser alterada e tornar-se um aspecto ainda mais viabilizador na direção da pessoa que você deseja ser.