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O aprendizado das emoções

26/02/21

Nossas emoções são parte de quem somos. Prova disso é que, desde que nascemos, nós nos relacionamos com o mundo por meio da percepção – a qual ocorre através dos nossos sentidos – e dos sentimentos. Mais tarde, durante o processo de aquisição da linguagem, nosso pensamento vai se estruturando e, então, passamos a nos relacionar com o mundo também a partir da reflexão e da imaginação.

Durante os processos de psicoterapia, é frequente ouvirmos as pessoas dizerem que gostariam de ter mais inteligência emocional e que gostariam de aprender a gerenciar melhor seus sentimentos. Por que será que, para muitos de nós, pode ser difícil compreender e organizar nossos processos emocionais?

Possivelmente, por ser algo tão ligado à constituição de nossa personalidade. Às vezes, não nos damos conta de que, embora o emocionar-se seja parte da vida humana e aconteça de modo espontâneo em nossa relação com o mundo, há um processo de aprendizado a ser feito em relação às emoções.

Portanto, é importante entendermos como os objetos à nossa volta (experiências, pessoas, pensamentos, crenças, eventos) nos afetam. Para isso, é necessário que, após a emoção se efetivar, possamos tomar distância emocional dos acontecimentos, passando então a refletir sobre eles.

Como acontecem as emoções humanas 

No momento em que a emoção acontece, há um processo de “encantamento” em relação ao mundo. Ou seja: atribuímos aos objetos propriedades e características que não estão, necessariamente, neles. Quando alguém se apaixona, por exemplo, vê o outro como inteligente, atraente, bonito, sensual, romântico. Em alguma medida, essas características podem estar na pessoa por quem a paixão acontece. Por outro lado, é o apaixonado quem enxerga no amado certas qualidades que outros podem não ver.

Da mesma forma, quando nos irritamos, essa emoção pode não estar relacionada à situação atual. Porém, é possível, porque atribuímos àquele evento elementos que podem ter, por exemplo, relação com nosso passado. 

Vamos exemplificar: se alguém me chama de incompetente quando estou dirigindo e eu me sinto totalmente afetado por isso, é possível que esse xingamento esteja me remetendo a situações onde me experimentei sendo dessa forma. Tornando aquela ofensa como algo insuportável. Se não percebo que minha emoção está relacionada não somente ao momento presente, mas ao modo como o insulto ganhou capacidade de me afetar, posso agir de forma desproporcional ao evento.

Desse modo, mergulhamos na emoção e perdemos de vista quem somos na totalidade. Além disso, como os sentimentos envolvem reações psicofísicas – que alteram não apenas nosso estado de humor, mas também nossa fisiologia –, esse mergulho pode ser bastante intenso e acompanhado de sintomas desconfortáveis e potencializadores da experiência do momento.

A importância do autoconhecimento para lidar com os sentimentos

Explicando melhor sobre a irritação, podemos pensar em dois cenários distintos: no primeiro deles, temos a situação onde eu me compreendo como sendo uma pessoa incompetente por conta de diversas situações do meu passado, as quais me levaram a ter essa compreensão sobre mim mesmo. 

Pode ser que, anteriormente, eu tenha tido dificuldades para aprender a dirigir, que não tenha conseguido tirar notas tão boas na escola e tenha, aos poucos, apropriado que não sou tão bom ou tão capaz quanto outras pessoas. Assim, nesse cenário, se eu faço uma manobra um pouco desajeitada no trânsito e alguém me chama de incompetente, esse xingamento poderá ser sentido como algo que confirma o meu “ser incompetente”.

Provavelmente, vou “mergulhar” na emoção e passar a, novamente, me experimentar como sendo incompetente. A partir dali, pode parecer impossível meu futuro ser outro – ou seja, uma pessoa competente, que faça bem as coisas e possa ser bem sucedida em suas ações. Tomado de emoção, pode ser que eu xingue a pessoa em retorno, não consiga mais dirigir, ou até mesmo não queira mais dirigir em outras oportunidades.

Em um segundo cenário: se tenho segurança de que sou alguém capaz e competente, por diversas vezes ter me experimentado assim e ser confirmado por outros como alguém com boas habilidades – como na escola, no aprender a dirigir, etc –, caso eu faça essa mesma manobra e seja xingado, posso tomar distância da situação e perceber que aquela ofensa é relacionada a uma ação realizada por mim. Mas que não diz do meu ser como um todo, não sendo uma verdade absoluta sobre a minha pessoa.

Nessa situação, posso entender que o insulto está relacionado a um acontecimento específico, com uma ação concreta que realizei no mundo. Mas, como não afeta o meu ser, posso tomar distância e perceber que agi mal, mas que isso não me torna incompetente. Por outro lado, não dá ao outro o direito de proferir palavras desagradáveis contra mim. Com essa reflexão, posso perceber que tenho capacidade para continuar dirigindo e, inclusive, escolher se vou ignorar o xingamento ou pedir desculpas àquela pessoa pelo meu erro. E, além disso, solicitar que ela procure se tranquilizar, já que erros e descuidos acontecem.

Por que é importante compreender as emoções?

Queremos enfatizar que as emoções têm função fundamental em nossa personalidade. Todas elas são importantes e apontam para nossa história, nossas experiências, para aquilo que faz nosso coração bater mais forte, de alegria – e indicar, por exemplo, quais são as situações que nos dão prazer e nos realizam – e que situações podem mostrar que há algo a ser trabalhado na personalidade.

Com as emoções, nós nos mantemos afetivamente ligados às pessoas e situações. Nos experimentamos conectados aos momentos, vivemos sensações agradáveis que fazem com que sejamos “puxados” para o futuro. Se, ao imaginar que amanhã posso ir à praia para caminhar, tomar um banho de sol, tomar banho de mar, e sei que esses eventos vão me causar sensação de relaxamento e paz, vou me direcionar para esse futuro. Com isso, realizo planos, me torno a pessoa que desejo ser.

Por outro lado, se eu penso que amanhã precisarei acordar cedo para trabalhar, mas que minha rotina é desgastante, que terei longas horas de atividades desagradáveis e pouco tempo de descanso, será mais difícil, pesado e exaustivo lançar-me para esse dia. 

Portanto, observar que emoções você experimenta e quais situações e eventos levam você a senti-las pode auxiliá-lo a compreender melhor quem você é e o que o faz feliz. O mesmo se aplica ao contrário: o que causa perda de interesse, preocupações e ansiedades em relação ao seu cotidiano.

As emoções são bons termômetros sobre como estamos conduzindo nossas vidas e dão pistas sobre quais escolhas estão nos levando a realizar nosso projeto de ser. Ou, de outra forma, quais decisões podem estar nos distanciando daquilo que efetivamente poderá tornar-nos mais realizados.

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