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Relações familiares e o ser em família

30/07/21

Em seus escritos, Jean Paul Sartre destacou a importância das relações para a constituição de nossa personalidade. Para o filósofo, não nascemos com uma personalidade formada – nosso ser precisará ser construído, e é por isso que uma de suas frases mais conhecidas é de que “a existência precede a essência”

Isso significa que, ao nascer, temos um corpo, com determinadas características, e temos uma consciência, que constitui nossa capacidade de estabelecer relações. Porém, não nascemos com uma essência pronta, nem com características de personalidade atreladas ao nosso aspecto biológico. Nosso ser se constituirá nas relações que forem estabelecidas após o nosso nascimento.

Quando nascemos, passamos então a nos inserir em um conjunto de relações. E, com elas, começamos a ter contato com valores, crenças, ferramentas e instrumentos que farão parte das mediações disponíveis para a constituição de nosso ser. 

É assim, por exemplo, que as crianças atualmente podem, desde muito cedo, interagir com aparelhos eletrônicos e telas, mas também com a ideia de que este contato precisa ser moderado e planejado pelos adultos. Os instrumentos disponíveis, bem como as compreensões acerca da infância, são hoje bem diferentes daquele de 20 ou 30 anos atrás. Na época, os pais não precisavam se preocupar sobre os impactos (positivos e negativos) desses instrumentos tecnológicos na vida de seus filhos e filhas.

O papel da família na definição de quem somos

Nascer e pertencer a uma família é algo que faz parte da vida da maioria das pessoas. Mesmo crianças institucionalizadas vivem, muitas vezes, em grupos que fazem a função de uma família, recebendo apoio e criando vínculos com outras crianças e adultos que exercem sobre elas algum cuidado.

Embora as configurações familiares venham se alterando e contemporaneamente sejam diversas, as funções que uma família exerce continuam sendo fundamentais para a construção de nosso ser. As relações estabelecidas nesse grupo desempenham importante função na definição de quem somos e de quem desejamos ser. Ao mesmo tempo, podem contribuir para que nossos desejos sejam alcançados ou podem gerar dificuldades na efetivação de nossos projetos.

A singularidade das relações familiares

As famílias são constituídas por pessoas que, além de fazer parte do grupo, mantêm sua singularidade. Assim, cada um levará para as vivências coletivas aquilo que tiver experimentado individualmente em sua trajetória. 

Por essa razão, vemos famílias que, ao serem constituídas por pessoas que enfrentam dificuldades emocionais, por vezes não conseguem manter laços afetivos e de apoio mútuo. Isso pois seus membros podem viver complicações psicológicas que interferem nas relações grupais. Essas dificuldades individuais, se não trabalhadas, poderão gerar importantes impactos nos demais membros, atravessando a trajetória de todos e gerando, inclusive, danos emocionais aos seus componentes.

Além disso, é comum que, ao formar uma família, as pessoas que a constituem ainda não tenham pensado sobre “o que é ser em família”. Ou seja, o que significa fazer parte desse conjunto de pessoas que agora se reúne em torno de um objetivo, bem como que objetivo é esse e como cada um fará parte do trabalho coletivo para atingi-lo.

É comum, assim, que na medida em que passam a formar um grupo, muitas pessoas acreditam que as relações precisam se dar de modo totalmente espontâneo. Esquecem (ou desconhecem) que relacionamentos precisam de investimento e de trabalho conjunto. De um modo “automático”, as pessoas convivem, coabitam uma casa, mas não necessariamente constroem um lar. Ou seja, um lugar de afeto, de cuidado, de acolhimento e entrelaçamento.

O que é “ser” em família?

Desse modo, para constituir uma família viabilizadora do ser de cada um e do próprio grupo, cada membro precisará pensar de que modo sua trajetória individual será entrelaçada à história do grupo, mas também de que modo o grupo irá se tecer para atingir aquilo que espera enquanto grupo. 

Será importante perceber que as escolhas individuais podem ser mantidas, mas que aquilo que cada um escolher para si impactará na existência dos demais e na dinâmica da família. Algumas escolhas permanecerão sendo tomadas de forma singular, mas de alguma maneira precisam passar pela dimensão coletiva, ainda que seja na reflexão realizada acerca de como essa escolha poderá ser sentida pelos familiares. Outras precisarão, sem sombra de dúvidas, ser totalmente compartilhadas, pelo impacto que podem gerar na vida dos demais.

Entre os aspectos a serem observados e trabalhados nas relações familiares, está a forma como a comunicação é realizada e que aspectos podem ser melhorados. Por exemplo: atividades e tarefas coletivas compartilhadas e de que modo serão conjuntamente realizadas, que expectativas cada um tem do outro e o que é necessário estabelecer enquanto combinados e arranjos para que todos sintam que há espaço para seu ser. Além disso, é importante pensar nas vivências e experiências que cada um deseja ter enquanto família.

A importância do respeito mútuo nas relações familiares

Em uma família saudável, para viver coletivamente, não será preciso renunciar ao projeto singular – ele será respeitado e co-construído por todos. Cada componente poderá assumir seu desejo e terá suporte para que esse desejo seja respeitado e colocado em prática com a ajuda dos demais. Assim, as singularidades não ameaçarão o grupo, porque os laços afetivos são fortes o suficiente para comportar diferentes escolhas e distintos pontos de vista. Ao mesmo tempo, o que unirá a família será o desejo de estar junto, de partilhar, de conhecer e amparar cada um de seus membros. 

Uma família saudável também é um grupo em que há flexibilidade, empenho e dedicação na solução de problemas e dificuldades que possam acontecer ao longo de sua história. Por exemplo, frente a uma crise financeira, a responsabilidade para a reorganização desse aspecto será compartilhada e cada pessoa assumirá parte na tarefa, na medida da possibilidade de cada um de seus membros. Além disso, o grupo terá clareza de que eventos ao longo da vida alterarão a dinâmica do relacionamento, que precisará continuamente de ajustes para o realinhamento dos projetos individuais ao projeto coletivo.

Pela importância que as relações familiares têm na constituição de nosso ser, ao longo da vida, muitas vezes, embora um de seus membros busque pela psicoterapia, todos os demais podem ser envolvidos no processo. Isso pode ocorrer de modo pontual ou de modo contínuo, a depender das questões que mobilizaram para a busca de atendimento psicológico. 

Família que “se trabalha” unida pode permanecer por mais tempo e de modo mais feliz, unida. Pense nisso!

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