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As lições ao final da vida

31/05/21

No ano de 2011, a enfermeira australiana Bronnie Ware publicou o livro intitulado “Antes de partir: os 5 principais arrependimentos que as pessoas têm antes de morrer”. Ao longo de seus anos de experiência de trabalho com pacientes graves no final da vida, Bronnie foi observando e registrando aquilo que as pessoas diziam que mais gostariam de ter realizado em suas vidas e que, caso pudessem ter uma nova oportunidade, buscariam fazer de diferente.

Seu livro é um convite a pensar sobre nossas vidas e sobre as escolhas que temos feito. Escolhemos considerando que nosso tempo é finito? Ou escolhemos “acreditando” que temos “todo o tempo do mundo”? Escolhemos com base em um projeto de vida – ou seja, considerando aquilo que queremos construir e viver em médio e longo prazo – ou colecionamos instantes que não se articulam uns aos outros?

Viver o presente, o agora, é fundamental. Porém, o presente é um instante. Logo, torna-se passado. O futuro, por sua vez, está por vir – e é para ele que nos direcionamos. Nossas escolhas nos tornam quem seremos neste futuro.

Aprecie, portanto, as lições que as pessoas que estavam próximas à morte deixaram e que foram registradas por Bonnie. Avalie de que forma elas podem auxiliar você a (re)pensar seu projeto de ser. 

Perceba que, se tiver um pouco mais claro seu desejo, suas prioridades, aquilo que considera capaz de dar sentido à sua existência, você terá oportunidade de chegar ao final da vida com a sensação de ter vivido de modo autêntico e que, portanto, a vida pode ter valido a pena.

Os 5 arrependimentos ao final da vida

1. Gostaria de ter tido a coragem de viver uma vida fiel a mim mesmo e não a vida que os outros esperavam de mim  

Quantas vezes você já escolheu algo porque “achava que os outros achavam” que aquela seria a escolha certa para você? Ou porque, talvez, na sua família, diziam que esta seria a escolha correta, a que levaria você a uma vida de sucesso. Talvez porque você se sentia na necessidade de agradar alguém, ou dificuldade para dizer não a pessoas que considera importante na sua vida. Ou, ainda, porque socialmente aquela era a escolha valorizada pelos grupos dos quais você faz parte.

Sartre nos fala que algumas pessoas se posicionam enquanto “ser-para-o-outro”. Ou seja, colocam seu ser e seu projeto nas mãos de outras pessoas, não assumindo inteiramente para si a responsabilidade por suas escolhas.

Como descreve Bronnie, pessoas que agiram assim ao longo de sua vida se arrependem de não ter realizado escolhas mais autênticas – aquelas que realmente expressavam seu desejo e que, possivelmente, teriam possibilitado alegrias e realizações genuínas.

2. Gostaria de não ter trabalhado tanto

Principalmente para as pessoas que realizam atividades que não gostavam, nas quais não viam sentido para além do ganho financeiro, ter dedicado muitos dias e horas ao trabalho era um arrependimento. Por terem trabalhado muito em atividades que não trouxeram recompensas além das materiais, sentiam falta de ter passado mais tempo com suas famílias, filhos e amigos. E, por ter perdido importantes momentos na presença de pessoas e situações que, ao final da vida, era o que consideravam realmente importante.

Por isso, lembre-se: Sartre nos diz que somos seres de relações. E temos múltiplos perfis: somos filhas, esposas, amigas, netas. Temos um corpo, podemos ter lazer, realizar atividades físicas, desenvolver-nos emocional e espiritualmente. O trabalho é um dos aspectos de nossas existências. Por razões econômicas, muitas vezes, ele ocupa a centralidade de nossas vidas, mas as pessoas que estão no final dela nos dizem que, ao final, são as relações afetivas aquelas que mais trazem significado.

3. Queria ter tido a coragem de expressar meus sentimentos  

Muitas pesquisas apontam que, ao final da vida, as pessoas sentem necessidade de dar e receber perdão, de dizer que amam e que são gratas a pessoas e situações. Se, então, ninguém tem certeza sobre o momento de sua partida, por que não dizer que ama, que se sente grato ou que deseja pedir desculpas a alguém ainda quando há tempo de aproveitar os desdobramentos dessa expressão de afetos?

Além disso, ser honesto consigo e com os outros permite realizar escolhas autênticas e assumir as rédeas de nosso projeto de ser. Permite colocar limites em situações que podem ser dolorosas e ampliar as trocas em experiências que podem ser ainda mais intensas e afetivas.

4. Gostaria de ter mantido contato com meus amigos  

Ter deixado encontros para outro momento, ter dito não a reuniões de amigos, não ter realizado algum esforço em manter contato mais próximo com amizades importantes também eram fontes de arrependimento ao final da vida das pessoas ouvidas por Bonnie.

Amigos são relações escolhidas, alimentadas e mantidas. Diferente de algumas outras relações, podem gerar intensas experiências de reciprocidade, em que somos mediados pelos outros em nosso projeto, estimulados e reforçados por pessoas que se importam conosco e nos estimulam a buscar aquilo que nos fará mais felizes. São relações que podem ser leves, em que o principal compromisso seja de apoiar e estar-com, numa relação verdadeiramente viabilizadora de nosso ser, pois o principal interesse é que sejamos cada vez mais felizes e realizados.

Ter amigos pode nos prevenir de experimentar solidão, tão difícil de suportar, tão dolorosa e complicadora do nosso ser. Pode nos fazer sentir pertencentes a grupos, em que seja possível encontrar apoio e incentivo para a busca de uma vida cheia de significados e novas aventuras.

5. Gostaria de ter sido mais feliz  

Ao final, o que as pessoas mais gostariam de ter feito era permitir-se estar com pessoas, situações e lugares em que se sentiriam mais felizes. Muitas vezes, sabiam que outras escolhas as fariam mais felizes, mas deixaram de aproveitar a oportunidade por alguma razão.

Você se permite ser feliz? Permite-se fazer as escolhas que realmente farão você se sentir mais leve, mais seguro e em reciprocidade com outros? Ou você se prende a convenções sociais, culturais e até mesmo familiares? 

Muitas pessoas vivem uma vida “séria demais”, fazendo escolhas pautadas por normas estabelecidas por outros. Esquecem-se de rir, de permitir-se, de ousar experimentar. Esquecem que, ao final, serão as boas memórias aquelas que vamos querer relembrar. As situações engraçadas, as experiências divertidas, os acontecimentos inusitados, as vivências boas e inesperadas. 

Por isso, permita-se fazer escolhas que geram alegria. Aumente o número de vezes em que brinca e sorri. Colecione bons momentos, crie boas memórias. Não deixe para mais tarde a possibilidade de viver situações que façam você se sentir bem. 

As lições do livro

Com a lista destes 5 arrependimentos, Bronnie nos ensina que a vida requer de nós coragem para ser quem desejamos ser; que o valor não está no que possuímos, mas no que experimentamos. Também nos ensina que podemos fazer a diferença na vida de quem amamos (se, por exemplo, formos os amigos que impulsionam a viver uma vida mais autêntica), que a solidão corrói e nos torna frágeis e, por fim, que é possível se (re)inventar – ou, como diria Sartre, inventar nosso próprio caminho. 

Por isso, lembre-se: aqueles que enfrentam a morte nos ensinam a viver melhor a vida. Com seus relatos, podemos observar que olhar para o futuro, avaliar qual é a vida que poderá nos fazer feliz, pode nos auxiliar a fazer escolhas que, no fim de nossa jornada, nos fará sentir que vivemos uma vida que desejaríamos repetir.

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