Em março de 2021, completamos um ano desde o início da pandemia causada pela Covid-19. Com o distanciamento social, tivemos que aprender novas formas de lidar com a família, os amigos e o trabalho. Vivenciamos diferentes emoções e sofremos os impactos da pandemia na saúde mental.
Há um ano, tudo era novo. Pouco se conhecia sobre o vírus e seus efeitos, os modos de contaminação e consequências da doença. Hoje, alguns desses aspectos foram esclarecidos pela ciência. Porém, lidamos com cenários discrepantes. Alguns países avançam na vacinação e adotam medidas mais restritivas, diminuindo os números de contágio e mortes. Outros – como o Brasil – avançam a passos lentos na imunização e testemunham divergências entre líderes, em um panorama em que economia e saúde são colocadas em lados opostos.
Saúde mental e pandemia
Nesse contexto, as incertezas se acumulam. O cansaço, a tristeza, os sentimentos de medo e a ansiedade também se intensificam. Por vezes, há desesperança em ver situações tão diferentes entre os países – fruto de posturas tão divergentes entre governantes. Muitas vezes, olhamos para vários países avançando nas medidas de contenção da pandemia e pensamos em como o Brasil poderia ter evitado tantas mortes e a dor de tantas famílias.
Por outro lado, enxergar as diferenças no modo como a sociedade brasileira tem lidado com a pandemia causa desconforto. Enquanto alguns têm a possibilidade de trabalhar em casa e com segurança, outros precisam sair de seus lares e enfrentar o risco de contaminação. Se, de um lado, algumas pessoas puderam manter seus empregos, por outro, outros tantos viram seus postos de trabalho fechados. Enquanto alguns se privam de encontros sociais e atividades de lazer, outros promovem aglomerações e desrespeitam regras sanitárias.
Alguns impactos da pandemia são já muito visíveis em nosso país. Entre eles, aumento da desigualdade social, instabilidade econômica, profissionais de saúde esgotados, idosos com a saúde geral fragilizada, crianças e adolescentes imersos nas tecnologias e telas, adultos com índices mais altos de depressão, ansiedade, aumento dos índices de violência doméstica e suicídios, etc.
Outros impactos da pandemia na saúde mental e no emocional das pessoas ainda serão sentidos. Possivelmente, lidaremos com muitos indivíduos enfrentando processos difíceis de luto, situações de estresse pós-traumático, aumento do isolamento social. Enfrentaremos grandes desafios na educação, devido à dificuldade de acesso ao ensino presencial no último ano – e, talvez, nos próximos. E, na saúde, o desafio será o de conhecer, entender e cuidar das síndromes pós-Covid. Por tudo isso, um grande esforço tem sido necessário – para a maioria – para a manutenção de uma condição emocional estável e saudável.
Como lidar com os impactos da pandemia na saúde mental
Precisamos encontrar tranquilidade em meio ao caos, equilíbrio entre as notícias que selecionamos acompanhar e aquelas que vamos ignorar, a fim de manter a serenidade e a esperança. Paciência, para aguardar pela nossa vez na fila para a vacina. Humildade, para perceber que podemos viver com menos. Sabedoria, para eleger aquilo que de fato faz diferença em nossas vidas. Calma para lidar com renúncias. Coragem, para admitir que sabemos pouco e que, sim, algo “invisível aos olhos” nos exige a modificar nossas vidas e hábitos.
Perspectivas para o futuro
Talvez ainda reste avaliarmos o que aprenderemos com todas essas mudanças. Que tipo de sociedade queremos ser, após ficar evidente que ações individuais causam maiores resultados, quando unidas umas às outras?
Quais lições vamos aprender, ao interrompermos a rotina frenética de trabalho, correria, consumo, acúmulo de atividades e pouca convivência entre membros da família – que, antes, dividiam-se em seus afazeres fora de casa? Quais valores iremos cultivar depois de tantas vidas perdidas, tanto sofrimento testemunhado, tantas dores compartilhadas? Quem desejamos ser em um mundo que, em apenas um ano, modificou-se tanto? Quem vamos nos tornar, frente a uma reviravolta no cotidiano que conhecíamos até então? Que projetos iremos traçar, diante de um desvelar da nossa ausência de controle sobre certos eventos e fatos da vida?
Enquanto não é possível prever em que condição estaremos daqui a mais um ano, lembremos o que nos disse Sartre, de que, mais importante do que aquilo que nos acontece, é o que fazemos com aquilo que nos acontece. Isso implica que, mesmo nos piores cenários, nas situações mais difíceis e de grandes restrições, nada muda nossa responsabilidade e condição de fazer escolhas.
Nas palavras de Viktor Frankl, outro importante existencialista da era moderna: “quando não podemos mais mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos”.
Que sejamos melhores em um mundo pós-pandemia.
