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Saúde mental no trabalho

31/01/22

“Trabalhe enquanto eles dormem, estude enquanto eles se divertem”. Muito provavelmente você já ouviu essa e outras expressões semelhantes, indicando que, quanto mais trabalharmos, maior será nosso sucesso e nossa prosperidade na vida.

Porém, você já parou para pensar sobre as implicações de uma vida em que a centralidade está no trabalho? Já observou como muitas vezes as pessoas estão exaustas, sem energia para atividades de lazer ou mesmo para estar com amigos e família?

Vivemos em uma sociedade que romantiza a ideia de que o trabalho é fonte de dignidade. Não que ele não seja. Mas, por mais que possamos gostar das atividades profissionais realizadas, por mais que possamos nos realizar nelas, o trabalho continua sendo trabalho. Ele não deveria substituir outras fontes de realização pessoal, de desenvolvimento ou de preenchimento de sentido para a existência.

Essa lógica produtivista, em que as pessoas se tornam seus chefes (e, por vezes, seus piores carrascos), ignora que há sempre uma condição de possibilidade (social, material, cultural) para o alcance de certos objetivos e daquilo que a sociedade considera como sucesso. Além disso, produz, com frequência, adoecimento nos ambientes laborais, sem estimular que as pessoas questionem a que condições de trabalho estão submetidas e o quanto o estilo de vida laboral pode impactar em sua saúde de modo global.

Trabalho na contemporaneidade

Dados da Previdência Social indicam que os chamados “transtornos mentais” são a terceira principal causa de afastamento de trabalhadores por doenças no Brasil. No país, os episódios depressivos são a principal causa de pagamento de auxílio-doença não relacionado a acidentes de trabalho (30,67%), seguidos de outros transtornos ansiosos (17,9%). 

No contexto pandêmico, a saúde dos trabalhadores piorou. Em 2020, a concessão de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez decorrente de transtornos mentais e comportamentais bateu recordes. Foram mais de 576 mil afastamentos, uma alta de 26% em relação a 2019. Os fatores que contribuíram para esses dados incluem a inadaptação ao home office, acúmulo de tarefas profissionais e domésticas, endividamento, incertezas sobre o futuro, ansiedade, depressão e síndrome do pânico. 

Embora muitas empresas estejam repensando seus modos de produção e oferecendo flexibilização para suas jornadas e rotinas de trabalho, ainda é frequente encontrar organizações em que existem relações hierárquicas rígidas, com forte submissão a chefias autoritárias e pouco espaço para que os trabalhadores exponham suas dificuldades e necessidades. Além disso, com frequência são observadas falhas na comunicação entre pessoas e setores, aumento de demandas e de ritmo de trabalho, falta de recursos (materiais e pessoais) para a execução das tarefas e uma exigência crescente em relação à produtividade.

Em alguns extremos, são observadas situações de assédio moral, quando um superior ou um colega de trabalho submete o trabalhador a constrangimentos e humilhações de forma repetida e prolongada, causando intenso sofrimento.

Em nosso país, existe, ainda, uma constante atmosfera de insegurança quanto à manutenção dos empregos. O Brasil enfrenta altos índices não só de pessoas desempregadas, mas também daqueles chamados desalentados, ou seja, daquelas pessoas que desistiram de buscar uma colocação no mercado de trabalho, após algum tempo buscando vagas. Desse modo, para aqueles que estão colocados no mercado, há uma constante dúvida sobre a possibilidade de permanecer em seus postos o que, por vezes, gera também a submissão a condições nem sempre adequadas de trabalho.

Como cuidar da saúde mental no trabalho?

É importante que as intervenções em saúde mental sejam pensadas enquanto uma estratégia integrada em saúde, envolvendo ações de prevenção e promoção de saúde, identificação precoce de eventuais sofrimentos, apoio e cuidados para os mesmos. 

Além disso, é fundamental pensar que ninguém produz saúde sozinho: não é possível responsabilizar exclusivamente os sujeitos em relação à busca pelo seu bem-estar. Todos os envolvidos nas questões relacionadas ao trabalho devem agir de modo conjunto: empresas, indivíduos, governo, família e sociedade, cada um com as possibilidades e responsabilidades que lhes compete.

Assim, é importante que as empresas pensem em práticas que considerem, na medida do possível, a singularidade de cada sujeito, visando contemplar suas necessidades e características, tornando as condições de trabalho favoráveis ao bem-estar. 

Entre essas práticas, estão, por exemplo, a flexibilização da jornada de trabalho, incluindo possibilidade de home office, de saídas para cuidados com a saúde, como consultas médicas e psicoterapia ou até mesmo períodos para oferecer cuidados à família, quando necessário, sem que haja prejuízos ao trabalhador.

Também podem ser pensadas ações para o enfrentamento de dinâmicas negativas e punitivas no ambiente, estimulando que os trabalhadores se sintam confiantes em participar das decisões que impactam diretamente em suas atividades e também em seu bem-estar. Nesse sentido, é fundamental possibilitar a comunicação e a expressão de opiniões, desejos e intenções de cada trabalhador, para que todos tenham a oportunidade de desenvolver sua autonomia, engajamento e protagonismo.

De forma semelhante, é fundamental trabalhar as relações entre gestores e colegas, para que haja um ambiente mais cooperativo e menos competitivo, estimulando que haja constituição, alinhamento e reforço constante de um projeto coletivo de trabalho.

Conforme nos lembra Sartre, um conjunto de pessoas pode se relacionar de modo serial, ou seja, em que cada um não se entrelaça ao outro, estando em solidão, ou pode se relacionar enquanto um grupo, o que é possível a partir do momento em que há um alinhamento entre os objetivos  comuns  e  os  projetos  individuais.  É  necessário,  portanto,  que  os  objetivos  do  grupo estejam claros para cada membro e que estes possam encontrar meios de viabilizar seus projetos individuais por intermédio da atuação institucional.

Nesse modo de relação, há experiência de trocas, entrelaçamentos, mediações e reciprocidade. Cada pessoa pode se reconhecer como parte de um projeto coletivo, mas sente que suas necessidades individuais são respeitadas. Por fim, essas práticas contribuem para a quebra de preconceitos e estigmas relacionados à saúde mental, visando garantir que as pessoas que precisarem de ajuda não se sintam constrangidas em solicitá-la e tenham segurança de que, ao fazê-lo, não serão prejudicadas.

Conte conosco para pensar e avaliar questões de saúde relacionadas ao trabalho. Não considere esperado o sofrimento nessas relações. Busque ajuda se precisar!

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